sexta-feira, 19 de março de 2010

Tenso

No post passado falei sobre o macabro turismo de visitas a túmulos, então, ainda sobre esse assunto, deixem eu contar uma situação que vivi no Cemitério São João Batista. Não, eu não sou gótico.

Nas férias de julho, eu vim com a minha namorada (hoje ex) para o Rio. Ela é muito fã do Cazuza e queria conhecer o lugar que ele estava, então a levei lá.

Aqui no Rio, para fazer uma programação, você tem que colocar sempre 1 hora a mais, tudo é longe e você nunca sabe como estará o transito. Eu e ela deixamos para ir ao cemitério a tarde, pegamos vários ônibus e só chegamos no finalzinho do dia.

Chegando lá, demoramos um pouco até achar o túmulo do Cazuza. Sozinhos e sem ter para quem perguntar, fui seguindo meus instintos de quem já "estivera" lá anos atrás. Encontrei. Lá estava o poeta. Ela viu, chorou, rezou, tirou foto e saímos. Não tinha sequer uma alma viva naquele horário (se é que me entendem).

Com toda a demora pra chegar, já tinha anoitecido. Estávamos tensos dentro daquele cemitério. Era noite e só tinha eu e ela ali, sozinhos (pra não dizer outra coisa) por aquelas imensas “trilhas”. E vocês sabem como a mente humana funciona, só de pensar em certas coisas já começa a inventar medos. Aquelas estátuas, o silêncio, folhas secas no chão... e quando a gente pisava em uma? O barulho cortava a noite! E aqueles túmulos que são “casinhas”? Davam arrepios! Pior foi quando eu olhava, fixo, para um gato, achando que era estátua e ele saiu andando!



Chegamos no portão principal. Estava fechado. E agora, Rocha? O que fazer? Não tinha ninguém ali na guarita e os muros eram alto demais pra tentar pular. Arriscar um coisa dessas só me tornaria residente dali.

Em meio a uns túmulos, vimos uma pessoa andando. Magro, com uma pá na mão, vinha em nossa direção. Eu e ela, tensos por não saber se era vivo ou morto, fomos até ele perguntando onde era a saída. Quando o mistério é demais, não ousamos arriscar. Era um sujeito estranho, não dava pra ver direito o rosto, tava de boné, e além de estar escuro, ele era negro, parecia que só tinha duas bolinhas brancas nos olhos e alguns pontinhos brancos na boca - porque não tinha todos os dentes. Sem racismo, ok.

Mas então, aquela figura, naquele cenário, deixava o clima mais sombrio... ele indicou uma porta lateral, deveríamos atravessar todo o cemitério, e lá no fundo, no canto esquerdo, tinha uma saída. Agradeci a ele e disse que sentia medo em andar a noite pelo cemitério, então ele disse que também sentia isso quando era vivo... ahahahaha, mentira, se ele tivesse dito isso eu não estaria aqui hoje contando isso. Tinha enfartado na mesma hora.





E lá fomos nós. A procura da porta lateral. Foi horrível atravessar aqueles corredores, onde não são túmulos tradicionais, mas gavetas. Parece que você está trancado, tem que andar naquele vão, entre duas paredes cheias de gavetas com corpos. Se fosse de dia, a situação não seria tão tensa.

Chegamos até a porta lateral, do canto esquerdo, e estava fechada. Então fomos em direção ao lado direito, e lá tinha um vão para saída. Uma portinha pequena. Conseguimos sair, salvos de qualquer ataque de zumbi, mas não do nosso medo.

Passeio como aquele, nunca mais! Quando vocês forem fazer algo do tipo, não esqueçam de perguntar o horário que fecha o cemitério e se possível, peçam um mapa com todas as portas disponíveis!