segunda-feira, 5 de abril de 2010

Falta tempo pra ser você



Estamos passando por dias estranhos. Ano passado, de todos os amigos, ouvi: “Nossa, como o tempo está passando rápido”. E está mesmo. Não é estranho? Eu noto, nitidamente, que os dias estão passando rápido demais e quando vemos já é Páscoa, já é Natal, Ano-Novo e tudo começa de novo, e de novo, e de novo, e nunca termina ao mesmo tempo que nunca começa, como se o tempo tivesse ficado mais rápido do que a vida.

Nunca começa por que o povo parece sempre esperar por algo, a espera da vida engrenar, quando que ela já está passando, aí. Os dias mal começam e já terminam, não temos mais manhã, tarde e noite. Logo se vai. E amanhã parece que não houve o ontem, e assim por diante, parece que perdemos a memória. Que loucura!

Tudo, absolutamente tudo, nos dá a sensação que quisermos: ou de que determinada coisa aconteceu há pouco tempo ou que essa mesma coisa foi há anos, tudo depende de como você pensa.

E o problema é que sem a sensação da passagem dos dias, vivemos num interminável presente, sem passado e sem futuro. Boiamos nisso.

Os dias passando rápido demais me assustam. Muita gente se acomoda e não vive, fica sempre na mesma... logo vai morrer, e não ter história pra contar quando chegar no céu. E o impressionante, é que não é nenhum fenômeno da natureza, não podem nem acusar o aquecimento global por deixar os dias mais curtos, pq nosso relógio está aí, passando as mesmas vinte e quatro horas por dia como faz há séculos! O que mudou não é a hora, somos nós.

O mundo está cada vez mais prático, com mais tecnologia, com muitas coisas que tiram o “trabalho” do homem, logo pensamos, são coisas para deixar nosso dia-a-dia mais leve, mais simples. Ledo engano, se pensávamos que com tanta tecnologia teríamos menos trabalho ao deixar as tarefas pra máquinas, iphones, aparelhos industriais, etc, estávamos enganados. Cadê essa tranqüilidade, cadê essa paz tão sonhada por nossos antepassados?

Não existe essa a paz. A tecnologia não veio para aliviar, ela veio (e continua vindo) para nos tornar escravos. Não, eu não tô dando uma de moralista ou recriminando, imagina, isso seria retrocesso! É coisa de careta que prefere vinil. O assunto é outro: não sentimos a passagem do tempo pq quanto mais tecnologia, nossos dias precisam de mais horas pra ter tempo de fazer tudo. Nos ocupamos mais. Não faltam opções.

Estamos sempre aquém de alguma tarefa... de botões, de conexões, de pílulas, orkuts e ninguém mais senta no sofá pra pensar na vida, não vê mais as velhas e amareladas fotos antigas que nos davam a sensação de passado e mostravam a diferença para o presente, fazendo-nos pensar em como seria o futuro... Não filosofam mais no silêncio da madrugada... Perdemos essa essência, esse costume, essa tristeza e essa melancolia que fazia nos situar no presente. Não sobra mais tempo.

Às vezes eu gosto de ficar e sair sozinho, gosto de solidão, ir ao teatro, cinema, viajar sem ninguém, pelo simples fato de estar comigo mesmo, de pensar, de poder ter tempo. Não por egoísmo, mas por me fazer sentir no presente. Do contrário, o tempo passa e você não sente. Estamos sempre aquém de algo.

Tudo deixamos pra resolver amanhã. Mas o amanhã não é diferente, é igual o hoje, por isso que digo: vivemos num enorme presente. Sem passado e com um futuro que não pára de chegar. Estamos sempre correndo, mas correndo pra onde e por quê? Eu, aqui no Rio, vejo o tempo voar de tal forma que não entendo. Faz pouco mais de um mês que estou morando aqui e parece uma eternidade (não no sentido negativo da palavra, no sentido real, de eternidade, eterno, longo tempo) e vejo tudo como um presente interminável, sem conjugação de tempo. E ano passado foi a mesma coisa. Quem discorda de mim ao dizer que 2009 voou?